domingo, 4 de setembro de 2016

Nietzsche...

"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música." 


sábado, 3 de setembro de 2016



"Creio que aqueles que mais entendem de felicidade são as borboletas e as bolhas de sabão. Ver girar essas pequenas almas leves, loucas, graciosas e que se movem é o que, de mim, arrancam lágrimas e canções. Eu só poderia acreditar em um Deus que soubesse dançar. E quando vi meu demônio, pareceu-me sério, grave, profundo, solene. Era o espírito da gravidade. Ele é que faz cair todas as coisas. Não é com ira, mas com riso que se mata. Coragem! Vamos matar o espírito da gravidade! Eu aprendi a andar. Desde então, passei por mim a correr. Eu aprendi a voar. Desde então, não quero que me empurrem para mudar de lugar. Agora sou leve, agora voo, agora vejo por baixo de mim mesmo, agora um Deus dança em mim!"

Friedrich Nietzsche







segunda-feira, 15 de agosto de 2016

PLATÃO E ARISTÓTELES
Platão destaca, na República (livro III), a importância da educação musical dos futuros guardiões da cidade, ao dizer: “[...] a educação pela música é capital, porque o ritmo e a harmonia penetram mais fundo na alma e afetam-na mais fortemente [...].” (PLATÃO. A República. Tradução e notas de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001. p. 133.)
A música deve desenvolver sentimentos éticos nobres para bem servir a cidade e os cidadãos. Assim, a música deve moldar qualidades como temperança, generosidade, grandeza de alma e outras similares.
Na República, Platão faz a seguinte consideração sobre os poetas:
“[...] devemos começar por vigiar os autores de fábulas, e selecionar as que forem boas, e proscrever as más. [...] Das que agora se contam, a maioria deve rejeitar-se. [...] As que nos contaram Hesíodo e Homero - esses dois e os restantes poetas. Efectivamente, são esses que fizeram para os homens essas fábulas falsas que contaram e continuam a contar.” (PLATÃO. A República. Tradução de Maria Helena da Rocha Pereira. 8. ed. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1996. p. 87-88.)
Por seu turno, na Poética, Aristóteles diz o seguinte a respeito dos poetas: “[...] quando no poeta se repreende uma falta contra a verdade, há talvez que responder como Sófocles: que representava ele os homens tais como devem ser, e Eurípides, tais como são. E depois caberia ainda responder: os poetas representam a opinião comum, como nas histórias que contam acerca dos deuses: essas histórias talvez não sejam verdadeiras, nem melhores; [...] no entanto, assim as contam os homens.” (ARISTÓTELES. Poética. Tradução de Eudoro de Souza. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 468. Os Pensadores IV.)
Platão e Aristóteles concordam com o fato de o poeta falar o falso, só que para Platão suas fábulas são indignas para a juventude, enquanto que, para Aristóteles, a poesia por ser mímesis não precisa dizer a verdade.
[...] não é ofício de poeta narrar o que aconteceu; é, sim, o de representar o que poderia acontecer, quer dizer: o que é possível segundo a verossimilhança e a necessidade. Com efeito, não diferem o historiador e o poeta por escreverem verso ou prosa [...] (ARISTÓTELES. Poética. Tradução de Eudoro de Souza. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 249.)
Para Aristóteles a poesia refere-se, principalmente, ao universal; a história, ao particular.
POESIA - POÉTICA
“[...] a poesia, o nomear que instaura o ser e a essência das coisas, não é um dizer caprichoso, mas aquele pelo qual se torna público tudo o que depois falamos e tratamos na linguagem cotidiana. Portanto, a poesia não toma a linguagem como um material já existente, senão que a poesia mesma torna possível a linguagem. A poesia é a linguagem primitiva de um povo histórico. [...] então é preciso entender a essência da linguagem pela essência da poesia.” (HEIDEGGER, Arte e poesia. 1992).
Através deste fragmento, podemos visualizar que é preciso entender a essência da linguagem pela essência da poesia, pois a poesia mesma é que torna possível a linguagem.
A arte está muito além da beleza, a arte provoca em nós sentimentos e pensamentos que estão intimamente relacionados a nossa capacidade de reflexão. Os movimentos artísticos e os verdadeiros gênios que já passaram por esse mundo, sempre buscaram relacionar sua arte com a política e com a sociedade em geral. Por esses e outros motivos, a arte juntamente com a filosofia provoca nossos mais profundos pensamentos acerca do mundo em que vivemos e de nós mesmos.
WALTER BENJAMIN
"Em suma, o que é a aura? É uma figura singular, composta de elementos espaciais e temporais: a aparição única de uma coisa distante, por mais perto que ela esteja. Observar, em repouso, numa tarde de verão, uma cadeia de montanhas no horizonte, ou um galho, que projeta sua sombra sobre nós, significa respirar a aura dessas montanhas, desse galho. Graças a essa definição, é fácil identificar os fatores sociais específicos que condicionam o declínio atual da aura. Ele deriva de duas circunstâncias, estreitamente ligadas à crescente difusão e intensidade dos movimentos de massas. Fazer as coisas "ficarem mais próximas" é uma preocupação tão apaixonada das massas modernas como sua tendência a superar o caráter único de todos os fatos através da sua reprodutibilidade". (Fonte: BENJAMIN, W. "A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica". In: Magia e Técnica, Arte e Política. Obras Escolhidas. Tradução de Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1985, p. 170.)
O declínio da aura decorre do desejo de diminuir a distância e a transcendência dos objetos artísticos. Já que a obra é aquilo que nos transporta ao distante, quanto mais próximos queremos ficar dela, acontece a perda do seu valor de culto e da sua aura artística.
Sobre a crítica de arte, Benjamin afirma:
“É preciso mais crítica para tornar os espaços mais plurais e mais compartilhados, precisamos falar sobre tudo aquilo que nos causa movimento.”
Diante dessa afirmativa é possível dizer que, a crítica de arte significa explorar os contextos e as releituras da obra. Afinal a crítica nada mais é do que um movimento que se dá a partir da obra, e pretende enaltecer todos os contextos que ela revela.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Quando Nietzsche chorou...

Cara Lou,
Não escrevas cartas como aquela para mim! Que tenho a ver com essa desventura? Gostaria que pudesses te elevar diante de mim de modo que não tivesse que te desprezar. Mas Lou! Que tipo de cartas estás escrevendo? Colegiais ávidas por vingança escrevem assim! Que tenho a ver com essa lástima? Por favor, compreende, quero que te eleves diante de mim, não que te reduzas. Como posso perdoar-te se não reconheço mais aquele ser em ti pelo qual poderias chegar a ser perdoada? Não, cara Lou, ainda estamos a uma longa distância do perdão. Não posso sacar o perdão de minhas mangas depois que a ofensa teve quatro meses para penetrar em mim. Adeus, cara Lou, não te verei novamente. Protege tua alma de tais ações e pratica o bem pra como os outros e, especialmente par o meu amigo Rée, o que não pudeste fazer de bom para mim. Não fui eu quem criou o mundo e, Lou, gostaria de ter criado - então conseguiria suportar toda a culpa por terem as coisas entre nós tomado o rumo que tomaram. Adeus, cara Lou, não li sua carta até o fim, mas já havia lido demais...
(Carta de Friedrich Nietzsche a Lou Salomé de dezembro de 1882)

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Sobre o contexto filosófico

  “Dizer que as indagações filosóficas são sistemáticas significa dizer que a Filosofia trabalha com enunciados precisos e rigorosos, busca encadeamentos lógicos entre os enunciados, opera com conceitos ou ideias obtidos por procedimentos de demonstração e prova, exige a fundamentação racional do que é enunciado e pensado.” (CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 13ª ed., São Paulo: Ática, 2008, p. 21).
“Mais que saber identificar a natureza das contribuições substantivas dos primeiros filósofos é fundamental perceber a guinada de atitude que representam. A proliferação de óticas que deixam de ser endossadas acriticamente, por força da tradição ou da ‘imposição religiosa’, é o que mais merece ser destacado entre as propriedades que definem a filosoficidade.” (OLIVA, Alberto; GUERREIRO, Mario. Pré-socráticos: a invenção da filosofia. Campinas: Papirus, 2000. p. 24).
Como fundamento teórico e crítico, a filosofia ocupa-se com os princípios, as causas e as condições do conhecimento que pretende ser racional e verdadeiro, com a origem, a forma e o conteúdo dos valores éticos, políticos, religiosos, artísticos e culturais. Mas acima de tudo a filosofia envolve a maior de todas as artes, a de bem viver. (Marcella Martins)

sábado, 23 de abril de 2016

Conhece-te, Aceita-te e Supera-te...

"Torna-te quem tu és". Recomendado para espíritos livres.

"Quanta verdade suporta um espírito? Pois bem, não somos nada! Somos este caos que se perde nas bordas de si mesmo, um animal na jaula, somos as ondas que batem contra o rochedo, somos o deserto que se esparrama pelo mapa, por onde os ventos cruzam e as dunas se movem. [...] Mas estas forças que nos constituem estão constantemente pressionando, arrastando, empurrando o homem de um lado para o outro. Quem crê no sujeito são os fracos. Tornar-se quem se é significa transvalorar os valores, escolher outros, novos, brilhantes. Encontrar um modo de vida propício ao aumento de suas próprias forças vitais. Quebrar a corrente de escravo, nem mestre nem Deus, não ter mais nenhum senhor além de si mesmo."


quarta-feira, 16 de março de 2016

"Quem não ama a solidão, não ama a Liberdade."
— Arthur Schopenhauer, in Aforismos para a Sabedoria de Vida
Ilustração de Léon Spilliaert.


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

" Homens convictos são prisioneiros."
Nietzsche (Assim Falava Zaratustra)





O que é o tempo?

O que é o tempo? Ou melhor, o que é isso que chamamos de "tempo"? O que é o presente? O instante do agora está conectado com o instante futuro como elos de uma corrente ou flui como o leito do rio?
Este debate, embora inaugurado por St. Agostinho, poucas vezes foi rigorosamente tratado pelos filósofos (com exceção de Henri Bergson), mas ganha importância nova princialmente diante das novas questões colocadas pela física quântica.
“O que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não o sei.” (Confissões – Agostinho, Livro XI)
"A pergunta sobre o tempo não é fácil. Pode parecer, mas não é. Como Agostinho nos mostra, é difícil entender de que modo existem passado e futuro. De fato, não há como defender que eles existem realmente, pois o passado já não existe mais, e o futuro ainda não existe."



quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

A Morte de Sócrates

"Vós também, senhores juízes, deveis bem esperar da morte e considerar particularmente esta verdade: não há, para o homem bom, mal algum, quer na vida, quer na morte, e os deuses não descuidam do seu destino. O meu não é consequência do acaso; vejo claramente que era melhor para mim morrer agora e ficar livre de fadigas. Por isso é que a advertência nada me impediu. Não me insurjo absolutamente contra os que votaram contra mim ou me acusaram. Verdade é que não me acusaram e condenaram com esse modo de pensar, mas na suposição de que me causava dano: nisso merecem censura. No entanto, só tenho um pedido a lhes fazer: quando meus filhos crescerem, castigai-os, atormentai-os com os mesmíssimos tomentos que eu vos infligi, se achardes que eles estejam cuidando mais da riqueza ou de outra coisa que da virtude; se estiverem supondo ter um valor que não tenham, repreendei-os, como voz fiz eu, por não cuidarem do que devem e por supor méritos sem ter nenhum. Se vós assim agirdes, eu terei recebido de vós justiça; eu, e meus filhos também. Bem, é chegada a hora de partimos, eu para a morte, vós para a vida. Quem segue melhor destino, se eu, se vós, é mistério para todos exceto para a divindade." 
(Apologia de Sócrates)


Artista: Jacques-Louis David

Assim Falou Zaratustra...

"Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar para atravessar o rio da vida. Ninguém, exceto tu, só tu. Existem, por certo, atalhos sem número, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio, mas isso te custaria a tua própria pessoa: tu te hipotecarias e te perderias. Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar. Aonde leva? Não perguntes, siga-o!"

Friedrich Nietzsche (1844-1900)


terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Ninguém nasce mulher: torna-se mulher



"O gênero é o sexo socialmente. As relações de gênero, as relações entre homem-varões e mulheres são socialmente constituídas, e não determinadas biologicamente. [...] hoje é uma relação de desigualdade social e pessoal baseada na diferença entre os sexos e legitimidade em nome de um determinismo biológico de superioridade de um dos sexos e de uma determinada forma de viver a sexualidade, heterossexual." 


O Mito da Caverna - Platão

Quantas vezes julgamos as coisas apenas pela imagem que vemos nelas? Muitas vezes nós nos deixamos levar pelas aparências e não procuramos saber qual é o real significado das coisas.O Mito da Caverna narrado por Platão no livro VII do Republica é, talvez, uma das mais poderosas metáforas imaginadas pela filosofia, em qualquer tempo, para descrever a situação geral em que se encontra a humanidade. Para o filósofo, todos nós estamos condenados a ver sombras a nossa frente e tomá-las como verdadeiras. Essa poderosa crítica à condição dos homens, escrita há quase 2500 anos atrás, inspirou e ainda inspira inúmeras reflexões pelos tempos a fora.

O Mito da Caverna

"SÓCRATES – Figura-te agora o estado da natureza humana, em relação à ciência e à ignorância, sob a forma alegórica que passo a fazer. Imagina os homens encerrados em morada subterrânea e cavernosa que dá entrada livre à luz em toda extensão. Aí, desde a infância, têm os homens o pescoço e as pernas presos de modo que permanecem imóveis e só vêem os objetos que lhes estão diante. Presos pelas cadeias, não podem voltar o rosto. Atrás deles, a certa distância e altura, um fogo cuja luz os alumia; entre o fogo e os cativos imagina um caminho escarpado, ao longo do qual um pequeno muro parecido com os tabiques que os pelotiqueiros põem entre si e os espectadores para ocultar-lhes as molas dos bonecos maravilhosos que lhes exibem.
GLAUCO - Imagino tudo isso.
SÓCRATES - Supõe ainda homens que passam ao longo deste muro, com figuras e objetos que se elevam acima dele, figuras de homens e animais de toda a espécie, talhados em pedra ou madeira. Entre os que carregam tais objetos, uns se entretêm em conversa, outros guardam em silêncio.
GLAUCO - Similar quadro e não menos singulares cativos!
SÓCRATES - Pois são nossa imagem perfeita. Mas, dize-me: assim colocados, poderão ver de si mesmos e de seus companheiros algo mais que as sombras projetadas, à claridade do fogo, na parede que lhes fica fronteira?
GLAUCO - Não, uma vez que são forçados a ter imóveis a cabeça durante toda a vida.
SÓCRATES - E dos objetos que lhes ficam por detrás, poderão ver outra coisa que não as sombras?
GLAUCO - Não.
SÓCRATES - Ora, supondo-se que pudessem conversar, não te parece que, ao falar das sombras que vêem, lhes dariam os nomes que elas representam?
GLAUCO - Sem dúvida.
SÓRATES - E, se, no fundo da caverna, um eco lhes repetisse as palavras dos que passam, não julgariam certo que os sons fossem articulados pelas sombras dos objetos?
GLAUCO - Claro que sim.
SÓCRATES - Em suma, não creriam que houvesse nada de real e verdadeiro fora das figuras que desfilaram.
GLAUCO - Necessariamente.
SÓCRATES - Vejamos agora o que aconteceria, se se livrassem a um tempo das cadeias e do erro em que laboravam. Imaginemos um destes cativos desatado, obrigado a levantar-se de repente, a volver a cabeça, a andar, a olhar firmemente para a luz. Não poderia fazer tudo isso sem grande pena; a luz, sobre ser-lhe dolorosa, o deslumbraria, impedindo-lhe de discernir os objetos cuja sombra antes via. Que te parece agora que ele responderia a quem lhe dissesse que até então só havia visto fantasmas, porém que agora, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, via com mais perfeição? Supõe agora que, apontando-lhe alguém as figuras que lhe desfilavam ante os olhos, o obrigasse a dizer o que eram. Não te parece que, na sua grande confusão, se persuadiria de que o que antes via era mais real e verdadeiro que os objetos ora contemplados?
GLAUCO - Sem dúvida nenhuma.
SÓCRATES - Obrigado a fitar o fogo, não desviaria os olhos doloridos para as sombras que poderia ver sem dor? Não as consideraria realmente mais visíveis que os objetos ora mostrados?
GLAUCO - Certamente.
SÓCRATES - Se o tirassem depois dali, fazendo-o subir pelo caminho áspero e escarpado, para só o liberar quando estivesse lá fora, à plena luz do sol, não é de crer que daria gritos lamentosos e brados de cólera? Chegando à luz do dia, olhos deslumbrados pelo esplendor ambiente, ser-lhe ia possível discernir os objetos que o comum dos homens tem por serem reais?
GLAUCO - A princípio nada veria.
SÓCRATES - Precisaria de algum tempo para se afazer à claridade da região superior. Primeiramente, só discerniria bem as sombras, depois, as imagens dos homens e outros seres refletidos nas águas; finalmente erguendo os olhos para a lua e as estrelas, contemplaria mais facilmente os astros da noite que o pleno resplendor do dia.
GLAUCO - Não há dúvida.
SÓCRATES - Mas, ao cabo de tudo, estaria, decerto, em estado de ver o próprio sol, primeiro refletido na água e nos outros objetos, depois visto em si mesmo e no seu próprio lugar, tal qual é.
GLAUCO - Fora de dúvida.
SÓCRATES - Refletindo depois sobre a natureza deste astro, compreenderia que é o que produz as estações e o ano, o que tudo governa no mundo visível e, de certo modo, a causa de tudo o que ele e seus companheiros viam na caverna.
GLAUCO - É claro que gradualmente chegaria a todas essas conclusões.
SÓCRATES - Recordando-se então de sua primeira morada, de seus companheiros de escravidão e da idéia que lá se tinha da sabedoria, não se daria os parabéns pela mudança sofrida, lamentando ao mesmo tempo a sorte dos que lá ficaram?
GLAUCO - Evidentemente.
SÓCRATES - Se na caverna houvesse elogios, honras e recompensas para quem melhor e mais prontamente distinguisse a sombra dos objetos, que se recordasse com mais precisão dos que precediam, seguiam ou marchavam juntos, sendo, por isso mesmo, o mais hábil em lhes predizer a aparição, cuidas que o homem de que falamos tivesse inveja dos que no cativeiro eram os mais poderosos e honrados? Não preferiria mil vezes, como o herói de Homero, levar a vida de um pobre lavrador e sofrer tudo no mundo a voltar às primeiras ilusões e viver a vida que antes vivia?
GLAUCO - Não há dúvida de que suportaria toda a espécie de sofrimentos de preferência a viver da maneira antiga.
SÓCRATES - Atenção ainda para este ponto. Supõe que nosso homem volte ainda para a caverna e vá assentar-se em seu primitivo lugar. Nesta passagem súbita da pura luz à obscuridade, não lhe ficariam os olhos como submersos em trevas?
GLAUCO - Certamente.
SÓCRATES - Se, enquanto tivesse a vista confusa -- porque bastante tempo se passaria antes que os olhos se afizessem de novo à obscuridade -- tivesse ele de dar opinião sobre as sombras e a este respeito entrasse em discussão com os companheiros ainda presos em cadeias, não é certo que os faria rir? Não lhe diriam que, por ter subido à região superior, cegara, que não valera a pena o esforço, e que assim, se alguém quisesse fazer com eles o mesmo e dar-lhes a liberdade, mereceria ser agarrado e morto?
GLAUCO - Por certo que o fariam.
SÓCRATES - Pois agora, meu caro Glauco, é só aplicar com toda a exatidão esta imagem da caverna a tudo o que antes havíamos dito. O antro subterrâneo é o mundo visível. O fogo que o ilumina é a luz do sol. O cativo que sobe à região superior e a contempla é a alma que se eleva ao mundo inteligível. Ou, antes, já que o queres saber, é este, pelo menos, o meu modo de pensar, que só Deus sabe se é verdadeiro. Quanto à mim, a coisa é como passo a dizer-te. Nos extremos limites do mundo inteligível está a idéia do bem, a qual só com muito esforço se pode conhecer, mas que, conhecida, se impõe à razão como causa universal de tudo o que é belo e bom, criadora da luz e do sol no mundo visível, autora da inteligência e da verdade no mundo invisível, e sobre a qual, por isso mesmo, cumpre ter os olhos fixos para agir com sabedoria nos negócios particulares e públicos."



A morte é o destino inexorável...

A morte é o destino inexorável de todos os seres vivos. Entretanto, só o ser humano tem consciência da própria morte. O homem se pergunta sobre a morte e o que pode ocorrer após o fim do mundo que conhecemos. A morte se representa assim não só como o fim da vida, mas também como limiar de outra realidade. A crença na imortalidade, na vida após a morte, simboliza o medo humano do fim e da destruição e seu anseio à eternidade. Se encararmos a morte como um dilaceramento interno, a morte está presente em tudo aquilo que fazemos, pois a morte é uma perda. Ao tomar alguma escolha convivemos com a perda daquilo que não escolhemos. Até mesmo no amor, como o grande poeta já dizia "...a morte, angustia de quem vive [...] fim de quem ama". A todo momento nos confrontamos com perdas, e precisamos aprender a abandonar o conforto do habito para nos lançarmos as novas possibilidades. Ao se dar conta da morte, o homem é capaz de transformar sua vida e tornar seu viver autêntico, enfrentando a angústia e assumindo a construção de sua própria vida.

"O homem não passa de um caniço, o mais fraco da natureza, mas é um caniço pensante. Não é preciso que o universo inteiro se arme para esmagá-lo: um vapor, uma gota de água, bastam para matá-lo. Mas, mesmo que o universo o esmagasse, o homem seria ainda mais nobre do que quem o mata, porque sabe que morre e a vantagem que o universo tem sobre ele; o universo desconhece tudo isso. [...] Toda a nossa dignidade consiste, pois, no pensamento. Daí que é preciso nos elevarmos, e não do espaço e da duração, que não poderiamos preencher. Trabalhemos, pois, para bem pensar; eis o princípio da moral" (PASCAL)

"...ninguém morre antes da hora. O tempo que perdeis não vos pertence mais do que o que precedeu vosso nascimento, e não vos interessa: 'Considerai em verdade que os séculos inumeráveis, já passados, são para vós como se não tivessem sido' [Lucrécio]. Qualquer que seja a duração de vossa vida, ela é completa. Sua utilidade não reside na duração e sim no emprego que lhe dais. Há quem viveu muito e não viveu. Meditai sobre isso enquanto o podeis fazer, pois depende de vós, e não do número de anos, terdes vivido bastante. Imagináveis então nunca chegardes ao ponto para o qual vos dirigíeis? Haverá caminho que não tenha fim?" (MONTAIGNE)

Morte e Vida (Klimt)


A liberdade e Sartre

Para Sartre, como para outros existencialistas, existir é para o homem fixar alvos, persegui-los, projetar-se a si próprio em direção ao futuro. É ultrapassando os obstáculos que impedem a consecução destes objetivos, que o homem é livre. É através do transcender dos obstáculos que o filósofo chama o homem de “ser-para-si”, com base no nada (vazio) de sua existência, é livre a cada momento – já que Sartre nega o efeito de condicionamentos passados sobre a consciência. Desta forma Sartre afirma que “o homem é condicionado a ser livre”; por sua própria condição de ser. Mas a liberdade só se forma através do confronto, do embate; daquilo que Sartre chama de “situação”, obstáculo. Por isso o filósofo afirma que “só existe liberdade em situação e só há situação por meio da liberdade”. Daí a questão da responsabilidade tão importante para o existencialismo, principalmente em Sartre. Para o existencialismo, o homem é mais livre quando se vê obrigado a escolher. A liberdade, além de ser inerente ao homem é valiosa, porque através dela o homem pode exercer sua dignidade e direito de escolha, à qual é condenado pela vida. E a liberdade escolhida implica assumir responsabilidades, assumir riscos. Em Existencialismo é um humanismo, Sartre nos diz que “o homem não é nada mais do que ele objetiva, ele só existe enquanto se realiza, ele é por isso, nada mais do que a soma de suas ações, nada mais do que a sua vida”. O argumento de Sartre é de que a completa liberdade de que gozamos – ou melhor, à qual estamos condenados – faz com que sejamos totalmente responsáveis por tudo aquilo que pensamos e fazemos. Escreve Sartre em Ser e Nada: “Sou o responsável por tudo, de fato, por minha responsabilidade mesmo, pois não sou o fundamento de meu ser. Portanto, tudo se passa como se eu estivesse coagido a ser responsável”.

“Porém, se realmente a existência precede a essência, o homem é responsável pelo que é. Desse modo, o primeiro passo do existencialismo é o de pôr todo homem na posse do que ele é, de submetêlo à responsabilidade total de sua existência. Assim, quando dizemos que o homem é responsável por si mesmo, não queremos dizer que o homem é apenas responsável pela sua estrita individualidade, mas que ele é responsável por todos os homens.” (SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 6. Os Pensadores).

O homem, ao delinear seu projeto, o faz na convicção de que o que é bom para si é bom para todos; a imagem do homem que desejamos ser é, ao mesmo tempo, a imagem do homem como julgamos que deve ser, de modo que nossa responsabilidade envolve toda a humanidade. (Marcella Martins)


Aprendendo a Duvidar...

""Não menos que se sabe, duvidar me apraz", afirma Dante. [...] A verdade e a razão são comuns a todos e não pertencem mais a quem as diz primeiro do que ao que as diz depois. Não é mais segundo Platão, do que segundo eu mesmo, que tal coisa se enuncia, desde que a compreendamos. [...] O proveito de nosso estudo está em nos tornamos melhores e mais avisados. É a inteligência que vê e ouve; é a inteligência que tudo se aproveita, tudo dispõe, age, domina e reina. Tudo o mais é cego, surdo e sem alma. Certamente nos tornaremos a criança servil e tímida se não lhe dermos a oportunidade de fazer algo por si. [...] saber de cór não é saber: é conservar o que se entregou a memória para guardar. Do que sabemos efetivamente, dispomos sem olhar para o modelo, sem voltar os olhos para o livro. Triste ciência a ciência puramente livresca. Platão afirma que a firmeza, a boa-fé, a sinceridade são a verdadeira filosofia. [...]
posto que a filosofia é a ciência que nos ensina a viver e que a infância como as outras idades dela podem tirar proveito, por que motivo não lha comunicaremos? [...] Buscai nela, jovens e velhos, um objetivo para vosso espírito; um alimento (sentido e esperança) [...] quem procede de outro modo parece dizer que ainda não é tempo de viver feliz, ou que já não o é."
MONTAIGNE, Ensaios. São Paulo: Nova Cultural. p. 75 - 77.

Pode-se dizer que filosofar é o nosso ato de tentar aprender a viver. O filósofo ama e procura constantemente o saber, não um saber abstrato, mas de compreensão e reflexão da realidade que nos cerca. Portanto, busca-se uma vivência esclarecida que implica em uma relação direta com o saber viver. Por isso, a filosofia não defende que haja uma verdade absoluta. Objetiva-se despertar a consciência para a cuidadosa reflexão sobre a existência, na tentativa de ressignificar a vida através da autonomia. (Marcella Martins)

Heidegger e o ser-para-a-morte

Segundo Heidegger, o ser humano é ser como possibilidade, como projeto, essa ideia nos induz na temporalidade. Isso não significa apenas que temos um passado e um futuro, mas que o futuro se revela como aquilo para o qual a existência é projetada e que o passado é aquilo que a existência transcende. O existir humano consiste no lançar-se contínuo às possibilidades, entre as quais se encontra a situação-limite representada pela morte. A presença se mostra como ser aberto às possibilidades, e como situação limite se depara com a morte, aquela possibilidade que dá fim a todas as outras.
A angústia é o fenômeno privilegiado, gerado pela situação limite da morte, e conduz o Dasein (presença) do impessoal para a possibilidade de ser ele mesmo. “A angústia manifesta no Dasein o ser para o poder ser mais próprio, isto é, o ser-livre para a liberdade do se-escolher-e-se-apropriar-de-si-mesmo” (HEIDEGGER citado por DUBOIS). Nesse sentido, a angústia faz do Dasein um ser de possibilidades; a partir dela ele se vê livre para escolher-se. Enquanto ser-no-mundo o Dasein é “(…) aquele que constrói, é aquele que se projeta, é poder-ser, é deixar-ser; é liberdade enquanto possibilidade” (VALE, 2008, p. 25). “Para Heidegger é indiscutível que o dasein autêntico necessita estar angustiado” (MALLMANN, 2008, p. 62).


segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Eterno retorno

Eterno retorno Ewige Wiederkunft é um conceito filosófico formulado por Friedrich Nietzsche. Podemos observar nas palavras do filósofo em A Gaia Ciência

"E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez, e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderias: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?"





“O inferno são os outros”.

"Tudo o que vale para mim vale para o outro. Enquanto tento livrar-me do domínio do outro, o outro tenta livrar-se do meu; enquanto procuro subjugar o outro, o outro procura me subjugar. Não se trata aqui, de modo algum, de relações unilaterais com um objeto-Em-si, mas sim de relações recíprocas e moventes. As descrições que se seguem devem ser encaradas, portanto, pela perspectiva do conflito. O conflito é o sentido originário do ser-Para-outro. Sou possuído pelo outro; o olhar do outro modela meu corpo em sua nudez, causa seu nascer, o esculpe, o produz como é, o vê como jamais o verei. O outro detém um segredo: o segredo do que sou. Faz-me ser e, por isso mesmo, possui- me, e esta possessão nada mais é que a consciência de meu possuir. E eu, no reconhecimento de minha objetividade, tenho a experiência de que ele detém esta consciência. A título de consciência, o outro é para mim aquele que roubou meu ser e, ao mesmo tempo, aquele que faz com que “haja” um ser, que é o meu." 


(SARTRE, 1999, p. 454-455).